- Nº 1687 (2006/03/30)
Um testemunho: Álvaro Cunhal

A consagração<br> das conquistas da Revolução

Em Foco

Camaradas, eu peço desculpa de ter chegado tão tarde a este magnífico comício. Mas a razão é simples. Tive ocasião de, como representante do nosso partido, assistir à sessão da Assembleia Constituinte onde foi promulgada a nova Constituição. Trata se de um acontecimento verdadeiramente importante na revolução portuguesa, acontecimento importante para a consolidação da nossa democracia. As forças reaccionárias fizeram tudo, sobretudo nos últimos tempos, para impedir a aprovação e a promulgação da Constituição actual. Porque viram que a Constituição, no fim de contas, não correspondia àquilo que elas queriam que fosse, mas, pelo contrário, consagrou as liberdades e as conquistas fundamentais da Revolução. Consideramos por isso que é legítimo considerar a Constituição agora aprovada e promulgada como uma conquista das forças revolucionárias portuguesas, do nosso povo, dos militares do 25 de Abril.
(...)

Em defesa das liberdades

Nós, comunistas, temos sido muito atacados por alguns caluniadores que dizem que o Partido Comunista não quer as liberdades. Mas, nos anos duros da ditadura fascista, quando alguns que hoje não aprovaram a Constituição, mas que aprovaram talvez a Constituição de 33, estavam na Assembleia Nacional fascista ao abrigo da Constituição de 33, quando esses elementos que hoje se dizem democratas apoiavam a ditadura fascista, era o nosso partido, eram os comunistas, que à frente do povo, à frente da classe operária, lutavam não pelas liberdades para eles, comunistas, mas pelas liberdades para o povo português. Os comunistas não têm que receber lições de ninguém no que respeita à luta pelas liberdades. Nós defendemos um regime com as mais amplas liberdades, lutamos para que no nosso país todos os portugueses possam expressar a sua opinião, todos os portugueses se possam organizar, todos os portugueses se possam manifestar, se possam reunir, possam ter uma imprensa livre, sem censura prévia. Nós defendemos que haja liberdade sindical. que haja o direito dos trabalhadores se organizarem, que haja o direito de manifestação e o direito à greve. Nós defendemos que haja liberdade religiosa e que todos aqueles que têm uma religião a possam praticar sem qualquer ingerência ou interferência estranha. Somos defensores da liberdade, lutamos pela liberdade. Tal como no passado, tal como hoje, em quaisquer condições estamos sempre prontos a lutar pelas liberdades.

(Excerto do discurso de Álvaro Cunhal, proferido de improviso, no comício do PCP em Odivelas, no dia 2 de Abril, data em que a Assembleia Constituinte promulgou a nova Constituição)